"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

domingo, 24 de julho de 2011

43_ A volúpia do Segundo Estado

   Disparou, mas não passou quinze minutos a caminho da igreja quando ela começou a se sentir a rainha de toda a confusão que causou; rainha do desperdício de tempo e do desespero. Seu dia que começou tão bem sofreu uma violenta guinda ao início da tarde. Desde então  corria sem motivos concretos, apenas por vontade. As pernas acostumadas a desistir bambearam quando Camilla parou no semáforo. Sua respiração ofegante e seu coração acelerado estavam cansados de insistir em correr e nunca mais parar, a não ser por intervenção exterior.
   Mais alguns passos hesitantes, e estava em frente à igreja; juntou todas as forças físicas e morais para vencer a escadaria, mas todos os pecados praticados nunca a deixariam ganhar. Entre as poucas opções que lhe restavam, ela decidiu apenas sentar em um dos degraus para descansar.

   Por baixo disso tudo, a realeza tornou-se apenas outro ser humano.

   Um senhor, deveras respeitado pela idade, tomou a iniciativa e sentou ao lado da garota, Igualmente abatido e cansado.
 — Pois é, e aqui estamos nós, lutando e tentando esconder as cicatrizes.
 — O senhor deveria estar rezando a missa, creio eu.
 — Fui expulso do clero, minha jovem. Meus vícios não podem ser perdoados.
 — Padre, o que houve?
 — Não sou mais padre, Camilla. Estou a esperar a decisão final do reverendo. 
Infelizmente, por hora, eu sou apenas um vigário mundano.

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