"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

sábado, 9 de julho de 2011

38_ Beatitude anacrônica

   Mais do que nunca, Camilla implorou por um ombro para desaguar. Mesmo este quase nunca ter aparecido, e quando presente, não aproveitado. Mas essa vez era diferente, assim como todas as outras eram, dando a impressão de ser a mais forte entre as intensas.
   Esse tal ombro aconchegante não tardou a aparecer (exatamente 4 horas e 15 minutos). Foi uma pena ele ter aparecido de imediato apenas último sonho da noite que Camilla tinha direito. Nele, uma imagem angelical vinha caminhando lentamente vestida em verde claro; o cabelo liso como sempre tinha a mesma cor dos olhos castanhos que enxergavam apenas os pontos positivos de cada alma. Em uma das mãos um gorila de pelúcia segurando um coração era carregado e a doce fragrância no ar apontava a biografia beata que lhe foi concedida. Por fim, seu dedo anular da mão direita mostrava um brilho prateado de tempos antigos, invisível nos dias de hoje. O ombro esquerdo mostrava vestígios de lágrimas (assim como o esquerdo), sinal de que já fora alvos de pranto enquanto consolava.
   Camilla se sentiu satisfeita ao expor seus sentimentos à entidade celeste como havia feito há tempos atrás. Mas foi ao acordar e perceber que tudo isso não passava de um sonho que fez tudo voltar ao normal, mesmo sem se lembrar do rosto dela.

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