"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

quarta-feira, 22 de junho de 2011

27_ Dia de visita II

   Ajoelhada ao lado da cama estava a pequena garota. O médico não tinha escolha, sabia o que tinha que ser feito. Mas quem disse que ele faria isso?
— Rezando por ele?

   Sem reação, ela apenas se virou pronta para receber a bronca.
    Mas o doutor não fez nada alem de cumprimentá-la.
— Deixe me adivinhar... Camilla? Camilla Saentinni?  

   Concordou com a cabeça.
— Estou feliz em finalmente conhecê-la, já que seu pai vive falando de você. Veio dar seu apoio ao Sr. Saentinni?
— Vim fazer companhia, conversar um pouco e ver como é seu estado, mas agora ele está descansando. Acho que já devo ir.
— A segurança está em alerta. Eles viram uma mulher sem permissão perambulando pelo saguão. Não creio que vão fazer algo, mas para garantir, espere um instante aqui. Quem sabe se o seu pai não acorda agora?

   Era uma boa idéia, mas talvez não estivesse preparada para isso. Sentia-se na pele de uma foragida, mas estava realmente focada em conversar com o pai. Esperaria a noite toda, se ninguém estivesse atrás dela.
   Alguns minutos se passaram e alguém bateu na porta.
— Doutor? O senhor pode abrir a porta?

De dentro do quarto, o médico, pálido, tentou acalmar Camilla e resolver a situação.
— Poderia, mas o Sr. Saentinni está em repouso. Não seria certo se alguém perturbá-lo agora. Você não pode voltar mais tarde?
— Posso, mas a diretoria me enviou agora. Vimos uma mulher caminhando pelo prédio sem autorização e fui encarregado de procurá-la.
— Entendo. Deixe-me agasalha-lo, já estava pronto para aplicar a injeção, mas creio que ele pode esperar alguns minutos pelo seu tratamento. Só não conte a ninguém que eu fiz isso, pois meu emprego está em jogo agora.

   Por um momento, um silêncio tomou conta do cômodo, quebrado pelo guarda:
— Ferrou... Bem, doutor? Posso voltar aqui depois?
— À vontade.

   Era sua deixa. Camilla pegou sua bolsa, despediu-se do pai e fugiu pela varanda que dava acesso ao quarto vizinho. Desceu as escadas em direção à lavanderia dos fundos, como foi informada pelo médico, à procura da responsável pelo setor. Alguns minutos depois, estava no estacionamento do hospital em direção ao ponto de táxi. Mesmo sem conseguir conversar com seu pai, estava alegre em poder vê-lo. Quando entrou no veículo, ligou direto ao médico e pediu a ele para não contar ao pai sobre a visita, por algum motivo pessoal.
— Claro Camilla, como queira.

   Enquanto isso, num quarto qualquer do segundo andar, um senhor de meia idade pergunta o que havia acontecido enquanto descansava. Após o esclarecimento do médico, pede autorização para usar o telefone:
— Querida? A nossa filha está em casa? (...) Saiu faz muito tempo? Não, não... Está tudo certo, só queria saber como ela estava...

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