"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

terça-feira, 25 de outubro de 2011

75_ Crônicas além do mar VI


   Incompreensão

   Camilla foi a primeira a conseguir se mover. Caminhou até o corpo para medir a pulsação, mas o mordomo impediu o toque.
 — Não mexa no corpo — e com os dedos no pescoço dele, concluiu — ele está morto...
   Suas reações foram as mais diversas possíveis: Alex continuou imóvel; Camilla levou a mão à boca; Micaela desmaiou nos braços da Harumi.
 — Parece ser uma faca para cortar frutas, concluiu.
    Pairava um ar claustrofóbico, catastrófico naquele cômodo: a fenestra sacudia violentamente, mas não havia perigo de abrir por causa da trinca.
 — Camilla, dá uma olhada!
   Harumi apontou para a faca. Ela atravessou a agenda que o senhor guardou no bolso da camisa, o que apontava que era preciso muita força para fazer isso. Deduziram o seguinte: era seguro afirmar que o assassino era mais velho que os garotos. O fato de que Solange não foi vista em nenhum lugar significa que... Melhor não deixar mais ninguém saber disso.
    “É o melhor que temos a fazer” dizia Harumi com um piscar. Com o passar do tempo, as duas amigas aprenderam a conversar apenas com um único olhar.
 — Esta situação é, para todos os propósitos, um círculo fechado. E à primeira vista também parece ser um homicídio.
   O mordomo caminhou até a janela e continuou sua fala:
 — Além disso, ocorreu em um quarto fechado. Bem, como o assassino poderia cometer o crime neste aposento inacessível e fugir?

   Deixaram a Mica no quarto, aos cuidados da empregada. Alex ficou ao lado da amada nessa tarde. Já Yuki, que não tinha conhecimento dos fatos, só ficou sabendo que a garota tinha passado mal, nada mais.
   Do lado de fora do quarto, Camilla e Harumi conversavam, abaladas:
 — Isso parece ruim, Cá.
 — Eu não queria pensar nisso, mas a principal suspeita não é a Solange? Pois não a encontramos em lugar nenhum.
 — A propósito, ontem a Mica disse algo. Disse que no dia que brincamos na praia. Solomon e Solange estavam discutindo em um dos andares. E mais uma coisa, na noite passada eu fui ao banheiro durante o nosso jogo, não fui? Enquanto eu estava neste mesmo lugar a escutei conversando no telefone sobre algum passaporte, e se era possível tira-lo nessa semana.
 — Pensando bem, ela poderia estar organizando sua fuga para outro país. Mas e o quarto fechado? Nenhuma tentativa foi feita para fazer com que parecesse um suicídio. Não havia motivos para matá-lo em quarto fechado.

   De volta ao local do crime, ambas conversaram com o mordomo, que guardava a entrada do quarto.
 — Eu chamei a polícia e fui instruído a não permitir a entrada de ninguém. O tempo pode melhorar amanha à tarde, então suponho que eles cheguem por esta hora.
 — A porta ficou fechada à noite inteira?
 — Não sei, só tentei bater na porta. Solomon tem documentos relativos ao seu trabalho no quarto, então sou proibido de abrir a porta quando ele não responder.
 — Solomon e sua irmã não se relacionavam bem?
   O mordomo arregalou os olhos, espantado.
 — Eu também não sei disso. Trabalho aqui há apenas uma semana.
 — Uma semana?!
 — Eu e a empregada fomos contratados temporariamente. Nosso contrato é curto, de duas semanas nesse verão.
 — Foi só para esse resort então? Você não era empregado do Sol?
 — Isso mesmo. A respeito dos irmãos, só sei que Solange era empregada da empresa do seu irmão.

   “Tem algo errado... Harumi! Por que a saudade recíproca, se vocês nunca haviam se visto até chegarmos ao pier?”

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