"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

65_ Escondida da luz do dia


[Àquelas pessoas que nunca ouviram falar de maldição, nem nunca viram um milagre. Para aqueles que nunca choraram sozinhos num quarto sujo, nem nunca quiseram ver a face de Deus.]

   Amanheceu...
   A luz que passou por entre as barras da janela, iluminou o quarto e escureceu sua mente estava longe de acabar. Ninguém sabe que ela havia se deitado à noite com o desejo, a esperança de nunca mais despertar; já hoje de manhã, ao acordar e sol acariciar-lhe a pele, Camilla sentiu-se infeliz.
    Ela queria pôr a culpa no tempo, numa terceira pessoa, e assim o fardo insuportável de contrariedade e irritação não pesaria tanto. Mas sabe perfeitamente que a culpa é apenas sua – não, não é bem culpa, mas sabe que em seu íntimo está a fonte de toda desdita, assim como outrora lá se encontrava a fonte de toda felicidade.

    Exausta e desanimada, sem esperar ser respondida, sua voz foi dirigida às paredes, mas olhando para o chão:
 — Não sou mais a pessoa que pirava na plenitude dos sentimentos, que a cada passo encontrava um paraíso, que possuía um coração capaz de abraçar amorosamente um mundo inteiro?

   Mas esse coração agora está confuso e frio. Dele brotam arrebatamento de outros tempos. Seus olhos estão molhados agora, e os sentidos banhados pelas lágrimas. A garota sofre muito, pois perdeu a única coisa que dava encanto à vida: a força revitalizadora com qual ela girava mundos em torno de si...

   Amanheceu, mas não durou mais que um dia.

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