Sentado nas escadas, de
frente para um grande restaurante, um garotinho assistia a uma cena de teatro sem ter entrado num: uma única
mulher ajudava vários rapazes bêbados a ficarem em pé. Ao mesmo tempo, sentia
pena e aversão dos mais velhos, sem vontade nenhuma de ocupar seus lugares. Já
sabia que aquela garrafa que eles carregavam não trazia felicidade.
Era um garoto muito magro
com roupas rasgadas nos cotovelos e joelhos. Um par de sapatos lhe dava proteção
contra o piso frio, mas as meias eram ausentes. O gorro cobria boa parte do seu
cabelo liso e os olhos se tornavam tão vivos sob a luz das lâmpadas que eram
facilmente notados a uma grande distância.
Mas algumas vezes a vida tinha sido má, e logo cedo ele viu sua mãe
falecer por causas naturais. Sabia que tinha que seguir em frente, embora
doesse ser forte.
Mas outras vezes a vida
também foi injusta, e tão jovem se tornou órfão. Foi então mandado para um albergue,
e de lá fugiu inúmeras vezes para lugares distintos; todas essas vezes que
trocava de teto, ouvia a si mesmo dizendo que tudo estava bem, e que a paz estava
chegando. Foi preso por roubar alimento, mas neste instante apenas observava
uma festa e seus convidados.
Feliz, ria agora como se devia ter rido nos seus poucos anos de vida. Levantou-se e caminhou em direção a garota. Não tinha o que
dizer e quanto mais se aproximava dela, mais corado ficava.
— Com licença moça. Você é
muito bonita...
— Ah, obrigada.
— ...Mas porque está aqui no
frio?
— Só vim para curtir a noite,
esquecer alguns problemas. E você?
— Bom... Digamos que eu também...
— Mas você é muito novo,
seus pais não vão ficar preocupados?
— Quando eu chegar a casa,
converso com eles. Mas e os seus?
[Dedicado à amiga Priscila Pereira Caforio. Perdoe-me pela delonga.]
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