Relógios quebrados
deixaram de marcar as horas. Mãos calejadas de socar a parede não se moviam mais.
De um lado do quarto, encostada na parede, uma
jovem com a consciência de mil pecadores e a cabeça baixa. Na sua frente, sua vítima
agonizando em silêncio; a tinta volátil escorria de suas páginas até o tapete e
evaporava deixando para trás uma fumaça escura, tão densa quanto a mente de sua
antiga dona.
A garota,
sem medo algum, nem lágrimas nos olhos, tinha apenas tempo para tomar fôlego, e
fracassou em respirar.
Essa culpa a dominou e comprimiu seu peito. A
confusão a deixou cega (mentalmente e fisicamente) e assim, a jovem conseguia ver
algo realmente único, como uma estrela brilhante pela noite afora, mas isso não
passava de uma esperança boba de estar com a cabeça sã. Seus olhos procuraram
em vão apenas o que estava por traz dessa cega noção, que várias vezes enganou a
cabeça dela. Seu amigo, se ainda existisse, diria que há quem chame isso de
estupidez, mas como o amor ou ódio, sua culpa é falsa ou verdadeira? Mas quem,
com íntegro escrúpulo, já ouviu um ser sucumbido falar?
Depois de tanto olhar
para a pilha de folhas manchadas sem achar explicação, Camilla olhou para cima, olhou para as paredes, através da janela,
como se fosse encarar aquele que lhe deu a voz um dia, que a fez chorar e
sorrir, que emprestou sua vida e a tomaria uma noite qualquer, sem aviso prévio.
Talvez na mesma noite que estivesse deitada em sua cama sem fazer absolutamente
nada.
— Quem é você para fazer da
sua onipotência o direito de decidir o meu destino?
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