"E tu, bondosa alma, que te sentes tão angustiada como ela...
Consola-te com os seus sofrimentos, e permite que esta pequena personagem se torne sua amiga
(com todo vosso zelo e compaixão) que, por destino ou culpa própria, não tiveres outro mais próximo.
Não poderei recusar vossa admiração e amor para essa alma, nem ao seu caráter.
E com lágrimas, acompanhe o seu destino."

Sofrimentos do Jovem Werther (Primeiro Livro) - Goethe

domingo, 4 de setembro de 2011

56_ Meio termo


   A jovem deu entrada às onze horas no mesmo local que seu pai foi hospitalizado. Ao lado da maca estava o médico da família (um senhor grisalho de óculos, estava muito preocupado com a garota, e mais ainda se o caso chegasse ao ouvido do senhor Saentinni), sua amiga e alguns enfermeiros que auxiliaram no transporte.
   Mas apesar da presença de todos ali, apesar do lugar cheio, Camilla conseguia enxergar apenas a figura dela mesma mais jovem, “a sabedoria inacessível”. Um momento visto através daqueles olhos, disfarçados de cinza cristal:
 — Tanto para ver esta noite, Camilla, então por que você fecharia os olhos?
 — Por que eu não posso fechar os meus?
 — Ah, você deve estar fora de si agora, mas um dia você encontrará a sanidade que nos deixou cegas, e nos arrastou para trás.
 — Eu consigo ver as imagens claras como ontem, imagens de mim mesma.
 — Consegue ouvir as vozes implorando pra você ficar?

   O tempo continua passando, mas ela parecia congelada; cicatrizes serão deixadas para trás, mas algumas muito profundas para se sentir. Tinha medo do desconhecido, e a partir de então, medo da própria mente. Estimulada, meio acordada, precisava acabar com essa dor dentro da própria cabeça, pois ela está rindo dela.

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