— Diário, você não está desapontado comigo, está?
Um silêncio tomou conta do cômodo. Claro que ela tinha ferido seus sentimentos.
Talvez naquele momento, Camilla era apenas a mesma de sempre, como todas as outras, mas sem acusar terceiros por infligirem toda a dor. O diário esperava ver qualquer lágrima dela, mas nada aconteceu. Possivelmente, a garota estava confusa com a noite que estava vivendo.
No fundo, o diário percebeu que não estava ignorando aquela menina que costumava ser fraca, ou que poderia não ter sido; era outra pessoa ali dentro, alguém comovido por não poder escolher suas amizades por falta de opção. Ela não tinha com quem conversar, e seu único amigo estava lhe ignorando, fazendo dele uma pilha de folhas rabiscadas e encadernadas, apenas um peso morto, mesmo não desejando isso.
Tomou fôlego e, claramente, blefou:
— Eu o deixarei sozinho de novo, enquanto você está se fazendo de vítima!
— Garota, tente criar um garoto e transforme-o num cínico. Leve o amor dele e deixe isso se transformar em algo apaixonado, algo radical... Algo doente, enquanto eu mordo minha língua para impedir de quebrar o coração que eu gastei minha vida inteira procurando, o único coração que eu alguma vez precisei.
— Diário! Eu existirei como se não sentisse convicção de minha ignorância, minha prisão perfeita. Mas eu sinto as punhaladas em meus pulsos e tornozelos toda vez eu tento...
— Esquecer-me?
Ele estava se sentido gasto, e ela, insensata novamente. Sim, para seu companheiro, Camilla era um sonho, e ele apenas se fingiu de morto. Ela foi abençoada, e ele odiado. Ele é a constante, e ela, o seu vício.
Talvez ela fosse a única paz neste mundo, e ele, algo intranquilo. Agora a audiência estava aplaudindo a drama de pé, focalizados na versão dela. Do outro lado do quarto, Camilla se sentia traída assim por suas esperanças, mas não se esconderia apenas por sua paz de mente.
Ambos sabiam que isso iria durar mais alguns dias, mas ninguém desejava o sofrimento ao outro.
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