Estava se perguntando como não conseguia se lembrar desse lugar, pois ficou tanto tempo ausente que muito dele havia mudado: o jardim não era o mesmo, estava sem suas estátuas de gnomos e as flores murcharam; as árvores perderam sua folhagem e seus galhos devolviam o aspecto de uma planície morta; o telhado perdeu suas telhas e as janelas não apresentavam vidros ou algo para impedir a entrada do frio. Era a sua própria casa, mas não conseguia se sentir achegada, apenas uma grande saudade dos pais e amigos que não estavam lá.
Começou a andar pela casa, tentando desviar dos buracos no chão que pareciam chegar ao centro da terra. Verificou então quarto por quarto, até achar uma fotografia. A primeira vista, retratava a sua própria família, mas borrões não a deixavam ter certeza se eles realmente eram seus pais. Desesperada, ela correu para quarto e abriu a gaveta da escrivaninha, mas nada encontrou a não ser um livro encardido, rasurado por uma pessoa medíocre, desejando que ninguém existisse. Nesse caos, sem saber o que fazer, a garota foge dali, até a porta de entrada. Não pensa duas vezes e a abre num empurrão só, fazendo com que ambas caiam no chão.
Ainda assustada com a situação, Camilla tentou gritar com todas as forças, mas seus pulmões estavam ardendo em chamas. Foi olhar ao redor para pedir ajuda, mas se viu em um lugar completamente diferente, como se fosse um parque de diversões, bem mais vivo que sua casa.
Sua mente não estava ali, provavelmente tinha se separado do seu corpo quando encontrou o próprio diário. Agora confusa, se levantou um bocado cambaleante e decidida a explorar aquele local. Encontrou várias pessoas se divertindo no parque, chegou até a enxergá-las nitidamente, mas elas não a notavam, apenas continuavam a se divertir.
Mesmo que fosse um clima estranho, Camilla se sentiu desprezada, mas o sentimento aliviou-se quando um carrossel apareceu no horizonte. Esse por sua vez era gigante, brilhante e alegre, e foi poupado das criticas, diferente da montanha russa, lembrando da inércia que brincava com os corpos dos indivíduos, enquanto esses apreciavam a vertigem causada pelo monstro metálico. Permaneceu minutos apreciando os cavalos pintados quando algo tirou a atenção dela. Alguém, mesmo longe, gritava seu nome, mas Camilla não sabia de onde o som vinha. O timbre foi aumentando e os ruídos do parque, sumindo, até que o silêncio tomou lugar. Um último chamado, dessa vez mais perto, fez seus pelos levantarem e o corpo estremecer.
— Camilla, acorda!
Mesmo sem saber o que estava passando, Camilla levantou-se aliviada por ter deixado aquele pesadelo, e abraçou a mãe. Um amor maternal fez seu coração transbordar, mas não foi o suficiente para conter as lágrimas da notícia que a mãe trazia.
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