Quem a via caminhando na rua enxergava uma garota meio vazia. Mesmo se sentindo quase cheia, Camilla estava bem. Ou pelo menos fingia estar (e o fazia muito bem).
Enquanto ela se aproximava do destino, mais se aproximava de um colapso. Mais tranqüila que uma batida de coração que nivela veias, quieta como uma rua escura debaixo do luar e mais suave que o sorriso de um bebê, isso vai passar.
Entrou exaltada, empenhou para dizer algo à recepcionista, mas quase nenhuma palavra soou certa. Tentou mais uma vez, e a mulher só conseguiu escutar murmúrios molhados.
— Meu... pai...
— Ah, então você é a filha do senhor Saentinni? Ele sempre fala de uma garotinha com um livro antigo de baixo do braço.
— Ele já está melhor?
— Sim, ele está se recuperando bem. Pelo visto, você veio visitá-lo, certo?
— Gostaria de lhe fazer companhia nessa tarde.
— Desculpe-me, mas o próximo horário de visitas começa daqui a duas horas.
— Eu entendo. Posso voltar outro dia então.
— Olha, não é o certo, mas há certos casos em que um ou outro escapam pela vigilância e vão perambular por aí. Só não deixe os seguranças te pegarem. Ele está no segundo andar, quarto 225.
Seria totalmente impossível ela passar pelo saguão, se não caminhasse por entre as pessoas e não fosse percebida. Essa, a maldição dos ignorados, a salvou mais uma vez e abriu caminho até o leito. Agora a maior dificuldade era fazer uma única escolha. Isso não é necessariamente um dilema. Era mais um conflito interno, pois mesmo sem permissão para estar naquele local, sempre foi orientada a bater na porta antes de entrar. Fechou os olhos e levemente, acertou a porta duas vezes, como se fosse ser perdoada por invadir as dependências do hospital.
Seu pai parecia estar descansando na cama, mesmo respirando com ajuda de aparelhos. Segundo a recepcionista, o quadro dele havia melhorado e não conseguia imaginar o seu estado ao entrar no prédio. Não podia fazer muito, então Camilla apenas se ajoelhou do lado do pai, desejando melhoras.
Nesse instante, o médico da família havia entrado pela porta. Não queria atrapalhar, de jeito nenhum, mas conhecia as regras do hospital: não era permitida a circulação de pessoas fora do horário de visitas.
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