Eram altas horas. Talvez já houvesse passado das onze.
A garota chegou ao endereço, mas não sabia qual dos prédios era o certo. Não havia ninguém na rua para dar informações, e mesmo que as pedisse possivelmente ninguém saberia dizer onde tal pessoa morasse. Eram muitos arranha céus, milhares de apartamentos. A possibilidade de não encontra-la assustava e o mais sensato era ligar e pedir para que alguém a encontrasse.
Depois de feito, e enquanto aguardava, restava sobreviver até a chegada do anfitrião. Sua dor de cabeça ainda não baixou, e muito menos havia cessado, restringindo as atividades que podiam ser feitas, como ler, escutar música ou escrever...
Não poder escrever. Foi assim que ela havia se lembrado não só do amigo em casa, mas também da promessa feita a ele: “deixarei você por uma noite. Uma noite e apenas isso”. Mas isso não está sendo cumprido, pois mesmo que a noite não tivesse acabado ainda e outro dia começado, a sensação de que semanas se passaram corrói a mente da pequena, o suficiente para resgatar o sentimento de irresponsabilidade com quem mais se preocupa com ela, talvez mais que os próprios pais.
Num ato corajoso, Camilla começou a rabiscar um pedaço de papel encontrado na rua. Esse tal pisado e sujo seria, mais tarde, anexado ao diário ou tudo acabasse com o texto passado a limpo no mesmo destino.
Assim, alguns minutos se passaram, e logo vários, mas ninguém veio ao seu encontro e sentada, perdeu algumas horas, enquanto as memórias desapareciam e um simples instante tornou-se um momento infinito apenas dentro da própria mente.
Alguns “dias” depois de começar a escrever, alguém se aproximou e sentou ao seus pés, mas o ar sarcástico o denunciava de longe
— Ei, Camilla, vai passar a noite ai mesmo? Se precisar de um banho e descanso, pode me seguir, ta bom?
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