À primeira vista, o táxi era tão confortável como parecia ser do lado de fora, principalmente se os filtros de cigarros e as latas de cerveja rolando pelo assoalho fossem levados em conta. Por educação, a garota tentava ignorar o odor nauseante, mas esse era mais forte e roubava-lhe toda a atenção, e o que lhe restava era suficiente para lembrar a dor de cabeça. Sem que isso tudo fosse suficiente, ainda era bombardeada por futilidades do taxista.
— Você não está bêbada, está?
— Não.
— Sim, sim... Só evite sujar o estofado. Custa caro mandar lavar isso.
— Senhor, eu não estou bêbada, apenas...
— Usou drogas?
— ... Estou com dor de cabeça.
— Oras, pra isso eu tenho cura.
E com uma mão no volante, começou a vasculhar o porta-luvas em busca de algo.
— Achei! Aqui está, pequena.
— Agradeço, mas eu não preciso não senhor. Isso já vai passar.
— Que isso. Eu insisto, e tem muito aqui. Sei que você vai ficar bem melhor, só não tenho água aqui.
Cedendo a insistência do rapaz, fez um gesto de tomá-lo, mas o escondeu entre os dedos da mão e guardou o remédio na bolsa.
— Senhor? Pode me deixar ali na frente.
— Mais algumas ruas e chegamos, não tenha pressa.
— Não se preocupe, posso ir andando agora.
— Faço questão de te deixar no endereço. Agora pode deitar e descansar a cabeça.
“Como o taxista insiste tanto em me levar até o local?”
— Olhe; a próxima rua é contra-mão e o senhor vai precisar contornar o bairro. É melhor eu seguir a pé daqui pra frente. Quanto custou?
— Trinta reais, mais cinco pelo remédio.
Alguns minutos depois, dois vis conversariam sobre o dia cansativo, a noite refece, os passageiros que haviam sido transportados pela cidade, algumas fofocas e, óbvio:
— Cara, você nem acredita: levei uma perdida com macacoa até um canto lá e a droguei.
— E ai? O que houve? Rolou?
— Nem. Não teve nada de mais, ela saiu antes do comprimido fazer efeito. Com certeza vai ter uma noite ótima!
êi, passei para deixar um beijo, terê.
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