— Senhor, está tudo bem agora. Hão de lhe perdoar.
— Não, minha cara, eu não sou digno de remissão.
— E quem são eles para lhe julgar? Olhe nos meus olhos, seja o que for eu lhe perdôo, pois creio que não tenha agido por mal.
Ela sabia que era mais fácil dizer a agir. E a situação complica ainda mais se ninguém souber o motivo de tanto pesar. Mesmo assim, vê-lo nesse estado era perturbador: cabisbaixo, olheiras profundas e dificuldade para encarar a amiga; incomodaria qualquer desavisado que lhe pedisse benção naquela noite.
— Camilla, como pude ser tão ambicioso?
— O senhor, padre? - Insistiu em lhe chamar pelo título, mas o olhar triste pediu que isso não se repetisse.
— Eu almejava ser um dos ministros desta sé, mas ao descobrirem isso, eles conspiraram contra minha pessoa.
— Conspiraram?
Preocupada como uma mãe, e cheia de perguntas, a garota aspirava por respostas e ver um sorriso na face do amigo. E o ancião lhe explicar o plano arquitetado pela alta-cúpula da igreja, contar sobre a mulher, que fingiu confessar a fornicação com ele durante muito tempo. Mas contar tudo e despreocupar a jovem, o fato de fazê-lo ou não influenciariam quase nada na noite dele; desde que saíra da igreja, o senhor prometeu a si mesmo que não deseja explicar os fatos a ninguém, muito menos desabafar.
Talvez se contasse, por outro lado, ela entenderia o caso: a ambição tornou-se a ruína e o senhor acabou excomungado da igreja.
— Não há nada mais que possamos fazer, Camilla. Pela manhã estarei deixando esta cidade. Meus trabalhos por aqui acabaram, portanto, minhas missas e rezas não são mais bem vindas.
— Senhor, posso então ter sua última benção?
Como o velho não enxergava mal algum nisso, concordou com um sorriso amarelo.
— De suas agonias e de minha ambição, proteja-nos, Senhor.
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