Não se havia nem quatro quadras de diferença a basílica, e sua atenção voltou-se para uma casa iluminada apenas pelas luzes de uns néons rosas e azuis formando a palavra Night Club. Nunca tinha passado por essa rua antes, e indagou se realmente deveria ser estreada. Olhou para o lado desértico da rua, e na outra extremidade, um grupo de pessoas paradas na esquina que a observavam. Chegou à conclusão que por aquela direção não poderia voltar. Atravessou a calçada da casa chamativa, e uma mulher iniciou um dialogo com nossa heroína:
— Ei, psiu! Seu corpo renderia uns bons trocados hein?
— Ãhn? Como assim?
— Quantos anos você tem?
— Bem, faço 17 daqui a dois meses, por quê?
— Não quer trabalhar e conhecer novas pessoas?
— Ahh, não... Não tenho vocação pra trabalhos ainda.
— Quem disse que precisa de vocação? Se quiser, ensino alguns truques e te apresento ao meu patrão agorinha mesmo.
Não houve ninguém na vida dessa mulher para mostrar a diferença entre o certo e o errado, e talvez Camilla também não tivesse quem conversaria sobre o mesmo assunto. Passaram um bom tempo discutindo essa questão, até que a meretriz chegou ao tema da necessidade financeira. Precisava pagar sua faculdade, e um amigo mais velho sabia alguns meios de conseguir o dinheiro, e desde então, trabalha pra ele.
— Foi ele quem me colocou no “mercado de trabalho”. Alias, eu e minhas colegas devemos muito a ele.
— Quer dizer que você tem várias amigas?
— Na verdade não... Essas querem tomar meu lugar!
— Mas por que tanta disputa?
— Deste inferno, eu sou a mais requisitada pra satisfazer os desejos
— Isso deve ser um pouco chato, não deve?
— Isso é um saco! Sabe o que é ser a preferida?
Na verdade, Camilla não sabia. Tentou desviar olhar e usar a imaginação para fugir daquele canto, mas os néons pregaram os seus pés ao chão, mostrando o outro lado da realidade...
— Obrigada pelo papo, mas eu preciso ir agora...
— Bem, se você mudar de idéia, sabe onde me encontrar, né? Você pode começar com os mais jovens e quem...
— Não voltarei!
Ambas se olharam com um ar de desprezo, mas entenderam que isso só se passava de pontos de vista diferentes.
— Desculpa, me exaltei.
— Eu que peço desculpas, olha só onde estou te metendo. Agora vá, seus pais devem estar te esperando.
— Quem sabe...
Quinze minutos depois, andando pela avenida a seiscentos metros de casa, Camilla se lembrou das palavras da mais nova amiga, sábias de mais para sua função social: “Não subestime os sentimentos da sua família; Você tem alguém que te ama, diferente de mim, que só tenho a quem amar”.
Realmente nada é igual ao amor e proteção da família. Um belo texto.
ResponderExcluirAbração
''Se um amor te derrubar no chão, levante-se, pois somente os mais fortes sabem levantar, enquanto os fracos se ajoelham e buscam amar ilusões.''
ResponderExcluirDIGNO