Camilla se sentiu como uma burguesa: idolatrada pela mediocracia, odiada pela alta-nobreza; mas ela queria ser apenas um sans-culotte, cansada de sustentar os bacanais da nobreza, a ponto de causar uma revolução, liderada pela jovem iluminada e descobrir que pensadores livres são perigosos. Mal sabe ela que seus ideais repercutiram de uma maneira escandalosa - dividiu a opinião dos familiares, e alguns até a apoiaram.
Era apenas uma manhã rotineira para todos da vizinhança, e logo percebeu o cenário pré-apocalíptico se formando. As consequências já chegaram ao seu lar, e sabia que seus pais viriam repreendê-la. Levantou-se rapidamente, mas parou ao perceber que estava rodeada por paredes que a limitam, e que estaria debaixo quando essas desmoronarem. Tinha vontade de sumir dali, mas precisava assumir seus atos, dizer ao pai que não era sua intenção desrespeitar a autoridade do seu irmão.
Refletiu também sobre a sua família, e chegou à conclusão que eles não passavam de meros seres que se concentram integralmente na etiqueta, e em contrapartida, buscam, ano após ano, somente um lugar mais próximo à cabeceira da mesa nos almoços de domingo. Irmãos discutiam com primos por bens materiais, tios altercavam com sobrinhos, pais contestavam a mente dos filhos... Não era essa a atmosfera que ela queria. Por último, relembrou da priminha, que se tivesse sorte no futuro, teria uma vida melhor.
Pegou algumas camisetas, uns shorts e um par de meias, embolou tudo, jogou dentro da bolsa, secou as lágrimas que escaparam dos olhos, guardou o Diário embaixo do braço e fugiu de casa... Sem dinheiro, nem família, sem identidade, nem destino.
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