"Boa noite Querido Diário. Fui convidada ontem às pressas para um jantar de família e infelizmente não pude tê-lo como acompanhante. Reencontrei uma boa parte dos meus entes queridos, que mesmo morando longe, se preocupam em ligar e fazem questão de nos visitar aos fins de semana. Várias fotografias gravaram nossa noite, e aposto tudo que tenho em que todas elas vão para algum álbum, em algum site de relacionamentos, de alguma prima próxima.
Porém, um acontecimento acabou com meu espírito. Minha priminha, de apenas doze anos, ingênua como toda garota mais velha deveria ser, chamou mais atenção que algumas ciumentas (talvez mal-educadas, mas não tenho certeza), que no ápice da brincadeira de Ciranda, deixaram a pobre garotinha isolada numa mesa, enquanto elas se divertiam rodando e sorrindo. Seus pais, ao verem isso, apenas balançaram a cabeça, resmungando algumas palavras e alegando isso ser comum e que ela ficara afastada por opção.
Diário, instantaneamente meus olhos se encheram. Não compreendo como ninguém possa amar aquela criaturinha como ela tem o direito de ser amada, enquanto eu, somente eu a amo com tanta ternura, tão profundamente, não pensando em outra coisa, querendo que ela apenas fosse feliz.
Bem, ao reler essa página, vi que me esqueci de lhe contar o final da história: os pais dela vieram me perguntar o motivo de tanta revolta. Disseram-me que toda criança deve sentir e se acostumar com a dor do mundo às vezes, pois o mundo não é um mar de rosas, e eu me perguntei como monstros assim poderiam ter uma filha tão dócil e linda...
'Dor do mundo...' esse sentimento vive e existe na forma mais pura entre as pessoas que chamamos gentilmente de incultos e rudes! Eles não sabem o significado dessa expressão! Eu sou a prova viva do sofrimento, e não desejo isso nem a eles.
Ahh, Diário... Agora estou inconformada com esse ato desumano! Se eu pudesse, adotaria essa pequena alma e lhe daria todo o amor do mundo."
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